Postagens

Mostrando postagens de 2010

alimento pronto.

Tarde insípida. Jornal na porta. Entender o mundo é ler. Ler o que a moça que mora ao meu lado escreveu. É ouvir essa maquiagem formal que se cria. Mas queremos sobreviver, então tudo se torna comestível e aceitável.Vivemos a verdade relativa. Esse mundo preenchido por escadas está inteiramente submetido ao mesmo fim invisível. Esse mundo inexistente será enterrado com os talheres já feitos. A angústia é a previsão nítida que fizeram para o meu caminho. É a subordinação ao que eu nem sei se realmente existe. A angústia é poder duvidar que existo e ouvir o eco da minha voz na caverna do cotidiano. Vivemos bêbedos com a ânsia de conseguir o que é admirável. Bêbedos pelas cabeças, ao nosso redor, boquiabertas. O que nos restaria seria o beijo da manhã mas este não existe. Restaria-nos a vontade de descobrir o que está inserido nos nossos corpos. Também não há. Moro na minha casa de madeira e morro aqui sendo alimentada pela comida que deixaram na porta.

pluralidade.

O que me sufoca é a unicidade desse tudo que eu sinto.Esse negro que nos recheia e nos faz reféns.Não queria o eterno,não.Com ele,eu deixaria de viver para sempre.Não quero a beleza sem a força do interno,não.Quero pluralidade.Sim,a pluralidade.Quero-a pendurada nos nossos corpos,na nossa mente vazia.Quero-a simples,mas verdadeira. Quantas mãos me sufocam.Quantos pés em cima dos meus.Cabeças amontoadas na escadaria do prédio baixo,enquanto o lado esquerdo da cidade é livre.Não,não me deixariam fugir.A alma está colada,o movimento da multidão é o meu passo. Eu sobrevivo porque a senhora que dorme no quarto ao lado parece me amar.Ama-me de forma diáfana.Ela recolhe os copos vazios no meu criado-mudo,convida-me para assistir filmes quando meu rosto está úmido.Não pede nada em troca.Se pediu,deve ter feito-o com os olhos de forma que eu,tão cinza,não tenha percebido. Há pouco,o senhor dos olhos verdes foi embora. Foi embora e instigou minha vontade de saber pra onde foi. Intensif

texto da gincana

Hoje eu cheguei em casa e beijei minha mãe. Depois, fui até a sala e sentei para ler um livro. No meio da leitura, meu pai chegou. Beijei-o naturalmente mas nada mais que um beijo de obrigação de filha, beijo de desdém, beijo de pressa porque queria retornar logo à minha leitura. -Como você é estúpida! E se eu acordasse e não os visse mais? E se eu acordasse e sentisse a falta de alguém perguntando: -Está levando a blusa? À noite esfria! -Já jantou? Tem arroz fresquinho na cozinha para você! -Ouvi seus passos de madrugada. Foi dormir tarde, não é? Eu chegaria na casa vazia e começaria a esperá-los sentada no sofá. Eu chegaria na casa vazia e sentiria o cheiro tão peculiar da roupa deles. Eu chegaria na nossa casa vazia e veria o reflexo da minha alma em todos os recintos. -E por que não os beijou? Inferno! Porque eu esqueci. Eu esqueci, esqueci, esqueci que não há o eterno. Eu esqueci que aqui em casa tinha gente vivendo só pra mim. Olha só como a gente pisa n

Meu amado vô.

Ele estava indo embora pela porta,como fazia em todos os domingos quando vinha assistir o jogo de futebol pela televisão conosco.Não sei o que tinha no olhar que eu não queria que ele fosse,talvez eu estivesse um pouco consciente sabendo que aquilo era sonho,não sei.Mas eu disse: -O senhor não pode ir embora!Fique mais um pouco.Gosto muito de você! -Eu preciso ir sim. Em seguida,dei um abraço e disse a ele. -Eu te amo. -Viajem muito.Voem bastante,se puderem. E passou pela porta com aquele caráter inquieto pelo qual temos a certeza de que se trata dele. Quando eu acordei,lembrei dele e que tinha ido embora pra sempre pela nossa porta, no domingo.

a vida de cenário.

E se tudo for o figurino estabelecido?Se tudo for regra e programação para o eterno?Esse tudo que existe debaixo dos nossos olhos,acima dos nossos olhos,ao redor do nariz e do orgão auditivo.Tudo que é tato e necessidade.E se quem anda por aqui,pelo meu lado,é a programação?Se tudo for programação,ninguém há de me dizer a fim de esconder o segredo até que eu peça o final.Eu olho meus olhos,e acabo não descobrindo por quê sou ou fui.Meu passo não parece ser meu,parece ser completado pela necessidade de chegar em lugar instintivo.O fio de cabelo,na testa ,roça nos olhos e minha mão chega até a face sem que eu a peça.Eu não peço aos meu orgãos,eles o fazem.Estou quase certa de que essa multidão que me encara é o cenário.Só a existência da palavra ainda me faz presente aqui:no mundo internado pela cultura,pela etnia diversa e pela religião que me confunde e torna meus cabelos em formato e aspecto de novelo.Ninguém parece se preocupar emocionalmente com o fim de algo que é isso.Todos ao m

nosso velho mundo

Pensei durante três dias inteiramente preenchidos sobre a justiça do que somos.Pensei com os olhos em vários ângulos da casa.Pensei sobre a certeza que temos de quem somos,que é nenhuma.Se eu tivesse a certeza de um poder fascinante dos meus olhos,da minha beleza embutida,iria até você e pediria um beijo.Pediria-o sem adição de movimentos,sem a expressão do atraente.Iria ao palco e olharia no interior completo da plateia.A minha certeza é tão escassa que a procuro debaixo da cama em manhãs desestimuladas.Procuro-a na vontade de fazê-lo me querer.Não tenho nada além de uma vontade e de uma inveja para o impossível.Sinto-me frágil.Parece que só estou com a força que fazem atrás de mim.A aventura é disparar no caminho de barro,ir até sua direção,sem nenhuma certeza.Começo a achar que assumir a atitude de ser o que é humano é pedir o beijo,com a alma pura.É não conseguir fazê-lo agora e logo mais,quebrar o vidro com a face.Não pergunto mais o que é ser já que nada em mim silencia quando o

.

Acordei com gotas de água na testa e minha visão atingiu dois olhos castanhos.Os dois olhos trouxeram-me chocolate quente e sentaram ao meu lado,na cama.Fitei o par de olhos,sem palavras.Acabara de observar tuas lágrimas acanhadas escorregando do topo da face.Não perguntei.Para quê perguntar?Pranto é irracional,mesmo havendo aqueles que o dizem ser consciente.Quando terminara de beber,pegou a caneca e levou-a.Fiquei sozinha,deitada com o úmido na testa.Até então,não havia me perguntado de onde vinham tais gotas mas a textura fez-me pensar.Os olhos já estavam inchados?Porque se já o estivessem,as gotas seriam as lágrimas.Senão o que seria?Não sei.Resolvi acordar inteiramente,estiquei o corpo e soltei algum som.Coloquei meus pés sobre o chão,foi uma sensação deliciosa ter os pés na madeira gelada depois de uma noite preenchida por pensamentos de novelos.Meu olhos estavam escuros e o remanescente,com aspecto pálido.O par de olhos castanhos apareceu atrás de mim,convidou-me para comer pão

Engolir-nos-á

O que engole a gente não é verdadeiramente notável. O que engole nosso corpo e nossa alma deixa o mundo acabar dentro do que há aqui no cerne. É uma verdade instantânea que me engole,uma verdade inteiramente vazia e inquestionável. O amor move nossos cubos,move a direção dos nossos olhos e nos direciona para algo extremamente irracional.Arranca a água dos nossos olhos inchados. Ninguém sabe o que é e o que faz,e esse desconhecimento sufoca meus sentidos.Sufoca meu riso. O que nos engole evolui sem querer e vai atingindo áreas surpreendentes. É fato que é efêmero,que a felicidade relativiza tua importância.Ela percorre os segundos quando os pés estão no mar e saltita pelas vitórias que a sociedade decidiu.Tudo é efemeridade. A realidade é tão relativa quanto o lugar onde o sol se põe,onde nasce.Tão relativa quanto a beleza singular. Eu sigo a realidade do mundo aqui ao lado.Ela não é verdade,não é mentira.Mas sigo-a com pura impassibilidade.Com a face constante e o pensamento branco. (D

.

Cheira a palma da mão e inala a fuligem que compõe teu dia.Vês que tudo tem aspecto envelhecido e desgastado.Os membros que preenchem teu periférico caracterizam -se pela efemeridade, vão aos poucos com a cuidadosa limpeza das marcas.Nossos versos da eternidade desfazem-se como a música que silencia logo sem um final.A música que traz resquícios do sol e dos sentimentos de amor semibreves.O nosso amor é busca inteiramente abstrata.Eles perguntam o que é o líquido proveniente dos olhos,o que é o rubor da face,o que é a vontade de nunca parar.Dize tu à eles que é vida sem imagem formada.Informa tu que não há apoio por aqui,que só há pés de sustentação naturalmente própria. Os seres de sentimento juram tudo o que possuem,mas o longo certo é que as palavras que os alimentam diluem-se.Começa no sólido e torna ao seu ambiente da água até o fim.O desespero do segundo deixa-nos enfim em agitação do inédito.Animaliza nosso cerne e coloca o amor nas entrelinhas.

Foi embora

Minha boca inchada com as feridas traz lembranças de uma manhã descomunal,extremamente descomunal.Agora continuamos a andar como os outros mortais da pressão de padrão.Agora vamos indo para a busca da felicidade do esquecimento parcial da vida.Parece que todo têm culpa,parece que todos merecem ir também.Os olhos verdes estão enterrados,sem circulação sanguínea e sem visão para o céu.Estão quietos,silenciosos como a natureza.E o que o mundo deixa para nós que pertencia a ele está na flor do jardim daqui de casa,está nas suas palavras escritas,na memória mortal.Está acoplado no nosso cerne transparente.Agora buscamos seu abraço e seu beijo,mesmo com a boca de feridas ardentes.A natureza só nos pede desculpa com o sopro do vento,com o sol das seis horas.A natureza ajoelha aos nossos pés com a noite limpa. Não há constelação que amenize nossas faces,nem astro solar que as seque.Há tempo que apague os esboços e deixe a obra final para sempre,somente.Há tempo que nos envelheça e envelheça no