pluralidade.

O que me sufoca é a unicidade desse tudo que eu sinto.Esse negro que nos recheia e nos faz reféns.Não queria o eterno,não.Com ele,eu deixaria de viver para sempre.Não quero a beleza sem a força do interno,não.Quero pluralidade.Sim,a pluralidade.Quero-a pendurada nos nossos corpos,na nossa mente vazia.Quero-a simples,mas verdadeira.
Quantas mãos me sufocam.Quantos pés em cima dos meus.Cabeças amontoadas na escadaria do prédio baixo,enquanto o lado esquerdo da cidade é livre.Não,não me deixariam fugir.A alma está colada,o movimento da multidão é o meu passo.
Eu sobrevivo porque a senhora que dorme no quarto ao lado parece me amar.Ama-me de forma diáfana.Ela recolhe os copos vazios no meu criado-mudo,convida-me para assistir filmes quando meu rosto está úmido.Não pede nada em troca.Se pediu,deve ter feito-o com os olhos de forma que eu,tão cinza,não tenha percebido.
Há pouco,o senhor dos olhos verdes foi embora. Foi embora e instigou minha vontade de saber pra onde foi. Intensificou meu sufoco.Um par de olhos verdes enterrados. Não vi colocarem os olhos debaixo da terra,minha alma estava colada lá naquele lado direito do mundo.Colada,sim.
Essa cor cinza que me compõe não é meu sentimento.Essa fuligem espalhada no meu corpo é o resquício da multidão,é o cansaço pintado. E se eu for lá quando conseguir afastar minha cabeça das outras milhões?A grama cresceu.Não há mais circulação sanguínea.
Parece que esse segundo inventado já me engoliu. Parece que o que resta é aprender a cuidar da minha senhora.



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