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Mostrando postagens de setembro, 2019

despedida

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De uma ingratidão imensurável, ela acordou naquele dia com a vontade de se despedir. Despedir-se dos móveis de casa e da baderna de seus papeis e diários inacabados. Despediria-se dos pais e dos mais próximos. Acordou com o mau hálito distintivo de sua rotina matutina, os fios de cabelo oleosos e pegajosos e um peso nas costas que lhe fazia curvar já às sete horas da manhã. Um peso nas articulações que já lhe propunha a volta à cama. Despediria-se dos amores que lhe trouxeram alguma conclusão ou desconjugaram algum enraizado princípio. É verdade, sim, que usufruía de conforto qualificado e gozava de boa alimentação sempre disponível à mesa. Aos períodos de indecisão e felicidade, tinha a certeza de encontrar quem lhe esmiuçasse as fontes de angústia dos seus pensamentos e festejasse com sinceridade as pequenas vitórias de seu cotidiano microcósmico. Entretanto, algo sólido e áspero já se impactara nos estreitamentos de suas vias aéreas há algum tempo. Às tentativas de empaturrar-se