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Mostrando postagens de dezembro, 2020

A falta de mim dentro do outro.

  Quarenta e sete anos,  setenta e oito anos, noventa e dois, quarenta e um...  Falta de ar, dor abdominal, pernas inchadas, febre, dor, muita dor, você nem imagina!  Há quanto tempo começou? Usou algum medicamento? Tem comorbidades? Fez exames? Fez ou não? Tem que saber! Como ele está? Como ela está? Desidratada, taquipneica, mal perfundida...? Um ao lado do outro em cabines de impessoalidade. Cada olhar é um encontro de alguns minutos, é o atravessar da terra ao céu pelas púpilas mórbidas do homem que vai conhecer o terreno do infinito. Por quê evoluiu mal? O que foi que erramos?   Cada vida é tão imprevisível que dilata e encurta, morre e ressuscita tão subitamente nos muros do nosso olhar, nas quinas do nosso conhecimento sufocado. Cada vida é uma maquinaria de parafusos miúdos, sem chaves de fenda corretas. Preciso, então, concentrar-me em cada palavra de dor que sai dos lábios leigos desse homem e dessa mulher e transformá-las em versos de medicina, técnicos e frios. Os raios e f