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vendedora de frutas

O barulho já se tornou o silêncio da nossa hora mais calma. Tornou-se o som de gotas de água à meia noite. Todos falando ao mesmo tempo e cada vez mais alto. Basta que um chegue e diga belas palavras substituindo o zumbido para que o aplaudam. Não cansa de tudo isso, meu bem? Não cansa de achar a beleza somente no belo? Tanta hipocrisia feita de brindes com copos de vinho tinto. Vou te contar: empurraram-me até aqui e confesso que não reagi. É certo que ninguém mais me empurra. É certo que estou só com a corda e minhas próprias mãos porém diga-me, bem: como hei de voltar todo esse percurso sozinha? Como hei de achar o ponto exato de onde quero partir? Há tantos que iriam me caracterizar por maus nomes, que iriam achar outros olhos para se dirigirem a mim. Não todos mas muitos. Ainda há aqueles que me dizem para não pensar nos tantos mas dependo destes para ser feliz, compreende?Dependo desse barulho da cidade. Dependo da saia preta e da meia fina. Dependo dos meu cabelos inteirame

Lisbon Revisited-1923

Um poema com o qual ando me identificando nesses meses um tanto quanto argilosos. "Não:não quero nada. Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. Não me tragam estéticas! Não me falem em moral! Tirem-me daqui a metafísica! Não me apregoem sistemas completos,não me enfileirem conquistas Das ciências(das ciências,Deus meu,das ciências!)- Das ciências,das artes,da civilização moderna! Se têm a verdade,guardem-na! Sou um técnico,mas tenho técnica só dentro da técnica. Fora disso sou doido,com todo direito a sê-lo. Com todo direito a sê-lo,ouviram? Não me macem,por amor de Deus! Queriam-me casado,fútil,quotidiano e tributável? Queriam-me o contrário disto,o contrário de qualquer coisa? Se eu fosse outra pessoa,fazia-lhes,a todos,a vontade! Assim,como sou,tenham paciência! Vão para o diabo sem mim! Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! Para que havemos de ir juntos? Não me pegue

o elevador de sempre.

Entra na área privada,chama o elevador e sobe até o décimo primeiro.Ambiente agradável,flores em cima da mesa encostada no côncavo do local.Porta fechada e não há chave.Toca a campainha e a moça lá de dentro diz que não há chave.Não há chave?Como assim?A sensação simultânea de não poder ir e poder é estonteante.Basta apertar o botão do elevador para descer novamente.Descer para onde?Entrar em qual porta,se na primeira e única que tinha não há chave?A única porta do lado da mesa com flores está trancada e os donos da casa não chegam.O elevador já se fora mas bastava chamar,ora.Há outra porta que é acessada pelo outro elevador!Como não pensara nisso antes?Dirige-se à parte de trás da área.Dois homens esperam o elevador também.Um tempo infinito é percorrido na espera.Olha para as moedas da mão,um homem chega massacrando o copo de plástico e o outro se mantem conciso porém não indiferente.A subida ao décimo primeiro durou mais outra eternidade de tortura.Despediu-se dos dois sem tanto sent

tapa no rosto

Mais água para beber,mais vento para secar o suor.Mais vida para viver e mais sentido. Um tapa no meu rosto me acorda e faz mal.Não é sangue,é ferida da cor da pele. Não é lágrima,é água da chuva sem capuz. Não é a falta de sapatos,é medo. Quero um segmento para ir.Quero a meta ditada e torturada. Quero um só caminho sem ramificações e incertezas no fim. Centenas de braços acenam de lá. Felicidade cortada.Felicidade incoerente. Felicidade alheia mentirosa. Felicidade penetra na própria alma e muda o movimento dos olhos . O sol entre as montanhas era mentira. A alegria pura era mentira. O bolo de fubá em um domingo,o som do piano de frente para o lago cristalino o acordar com a risada e o mar vivo. Mentira. (...) (eu acho que ainda não acabou)

27/03

Ele tem que ir para caírem os chumbos sobre nossos corpos. Tem que ir para reagirmos ao finito sem exatidão. O beijo tem mais água e o cheiro que levam consigo se torna peculiar. Quando alguém vai,jogam pedras nas costas e dão surras na mente. A sensação volta quando lembramos.Volta com imensa facilidade. A facilidade da lembrança da cicatriz nos olhos. O certo é que vivemos para viver depois. O medo à meia noite,as bolsas pretas abaixo dos olhos são para viver depois. É,ele foi. Eu não sei se pretendia viver depois. Nossa mente transita entre o fim e o último olhar. Eu transito entre as pedras e o mar sem previsões. Os fatos nos corroem e o ritmo da cidade permanece. O traiçoeiro de hoje mata,nosso passo do amanhã às seis também. Joga-a no mundo e explica a incerteza. Diga a ela que não é exato,é teoria. Ela vai andar procurando a vida atrás das portas. Vai procurar a morte deles nas suas casas. Conta-a que é perigoso andar assim e que precisa se vestir. Diga a ela que há fronteiras e

indescritível

Morte penetrou na minha cabeça em algum dia.Depois disso,minhas escolhas pareceram únicas e sem volta.Comecei a enxergar a vida como uma carta sendo escrita à caneta.Deixei de distinguir a perda de tempo com o recarregamento de energia da alma.Tento não pensar muito no que é o mundo,porque quando o faço,sinto-me enclausurada e o destino de uma então fuga continuaria sendo o presídio da vida.Sinto falta de ar ao tentar descrever o irracional do sentimento.Às vezes,cai uma lágrima de um olho e fico com pena de mim,fico com pena de eu estar aqui subordinada à imensidão.Logo mais,chega o cego disposto.Chega a moça da rua e meu choro começa a parecer ser nobre,bastante caro.Parece vir da minha inconsciência admiradora de prantos. Quando entro em casa,vou até o espelho e olho para a imagem dos meus olhos.Olho para a minha expressão muda.Parece que pelos olhos vejo a alma que ocupa o corpo.Estranha sensação de separação do cerne e do físico.Sensação de chegada em uma fronteira inacessível. O