Ao Geraldo: homem de lança
Senhor Geraldo dorme ali ao lado da janela, de frente para o estacionamento do hospital. Ele está ali à beira das árvores, mas perdeu setenta por cento da capacidade da visão. Não vê as flores e folhas e os carros. Não enxerga com detalhes meus olhos como eu vejo os dele. Quem sou eu para Geraldo? Um risco branco às oito horas de cada manhã? Sou a voz que pergunta suas dores e se urinou. A mão que retira o cobertor dos pés e sente se estão inchados. Eu sou a notícia que ele não quer ouvir. "Vai ficar aqui conosco ainda, seu Geraldo." Ele carrega a dor da solidão e do que consome todo seu corpo por dentro e por fora. Ali no canto do quarto, ele pensa tanto, tanto (tanto.) que quando o vi dormir até franzia os olhos. Estar a pensar sobre a vida sem cessar certamente deve lhe dar a sensação de viver por uma eternidade e ter a angústia do segundo sofrido e demorado. Em uma de suas eternidades e divagações dilacerantes, houve uma epifania. Foi o ápice do desespero e o mergulho n