Postagens

Mostrando postagens de maio, 2019

O menino dos fios de ouro

Sentado ao colo da avó, estavam os olhos verdes vistosos e ingênuos escondidos por baixo de fios de cabelo pintados em balde de ouro. Sentava-se ali aquela criança tão serena, que observá-la era como ler versos de uma poesia sinestésica. A ode lírica se fazia pela sua contemplação diante de nossas conversas de adulto ininteligíveis, pelas nossas piadas nada hilariantes à tentativa de ouvir sua voz. Um menino esculpido pelos dedos angelicais do céu misterioso e agora, pois, vagava ali no chão de barro. Parecia-me querer conhecer as quinas do universo e entender, sim, o motivo das cores, das letras, dos nomes. Entretanto, como haveria de começar a reconhecer o canto dos canários se ao acordar àquele colchão não encontra quem lhe explique a orquestra da vida? Com seis anos, acumula as palavras que encontra pelo chão. Recolhe-as no bolso e utiliza-se dos olhos cristalinos para preencher o vazio dos vocábulos que tem. “É hora de almoçar, menino. Sente-se aqui.” O guri se ajeita