Da lua cheia de minha janela quadrada

Uma lua cheia olhou nos meus olhos hoje. Encarou-me com seu reflexo de luz penetrante e ousou tirar seus casacos de nuvens para deixar à mostra os nus ombros da noite fria. Era, então, o som da lua a despejar seu vestido sobre o meu quintal e querer brilhar muito mais que de costume. Era o som dela, chamando-me pelo nome para apreciar a imensidão de um céu inacessível. Estiquei meus braços em direção ao alto e fingi tentar subir para conversarmos mais de perto. Lua inquieta que não suporta ser menos que cheia para gritar no meu ouvido. A ópera da natureza, por instantes, conduziu-me à calmaria das minhas ânsias e lágrimas de ambições. A canção de um escuro pincelado com poucos graus centígrados ressuscita a ideia de que sou mortal e transformo-me em claves de sol de um poente do universo. Qualquer tristeza se dissipa num som que mais cedo ou mais tarde será melodia no céu de alguns outros. Quem sabe essa canção não sejam resquícios de lágrimas dos olhos verdes de meu vô.
Lembro-me de olhar não somente para a lua cheia, mas para os meus próprios olhos no espelho. Para os olhos escuros de minha mãe. Ambos os pares acessíveis, ao contrário do céu.

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