Olho meus olhos na manhã desse dia simples. Recoloco minhas estantes da personalidade em cada quina da solidão. Questiono quais partes de mim não se encaixam nas paredes desse quarto branco. Quais partes de mim?
Olho meus olhos no espelho encardido do apartamento em reforma e juro dormir mais cedo nessa noite. O que há em mim à noite que não incomoda à manhã? O sol nasce moribundo e cai sobre minhas pálpebras, que se esforçam para levantá-lo e jogá-lo na cidade a fim de iluminar telhados e antenas parabólicas. O sol subitamente pula e arranha minhas pupilas entremeadas no lago castanho tão comum.
Uma fruta, um copo de leite e um café forte está bom. Acorde! Hoje é dia de encontrar-me nos olhos dos outros, então. Ali consigo ver meus gestos e manias, às pupilas alheias em lagos cristalinos e exuberantes. Dou bom dia para quem vejo e me vê, e enxergo a imagem das minhas curvas e imperfeições. Ah! Quais partes de mim são minhas?
Tenho preocupação em dizer que, por vezes, a solidão me alivia. Limpa meus sentidos e põe-me de bruços no colchão da infância. As quinas da solidão são maleáveis e recolhem todos meus fragmentos, sem recortar as sobras do tecido da alma.
Quero estar só assim nesse poente. Quero estar só sob a lua que gosta de me colocar na cama.


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