Minha senhora

Uma manhã nem fria demais, nem quente demais. Uma manhã em que você aparece à porta e diz que é dia. É dia, flores! É dia, flor! Uma manhã em que você abre as cortinas claras, as janelas e convida os raios de um sol acanhado a despertarem-me de um sono sem sonhos ou resquícios de pensamentos acumulados nas quinas do subconsciente. Chama-me de novo que eu acordo para te ver. Levanto-me para ouvir-te, tuas semi-histórias de um dia há pouco iniciado. Para lentamente experimentar um café da manhã sob as nossas viagens e críticas de um mundo nem sequer quisto por nós. 
Gostaria, sim, de chegar em casa à noite depois de um dia estupidamente tumultuado e não ter vontade de querer lhe contar. Gostaria de arrancar os pedacinhos de saudade que ocupam espaço nesse quarto já tão apertado. Um porta-retrato exala versos que questionam a felicidade. Felicidade molhada pelas lágrimas rotineiras de domingos? Será mesmo trivial chorar por uma vida distante assim? A senhora que sabe tanto desses caminhos sinuosos aconselharia-me a engolir espinhos, sei. Diria que sempre haverá um motivo para entristecer, porém não os ando procurando sob dias satisfatórios. Ando sentindo-os de um lugar incrivelmente fundo dessas florestas de sentimentos que me povoam desde a infância. O intervalo de tempos no qual consigo equilibrar-me por hora é a lembrança do nosso dia de acordar cedo juntas entre o esperar pelo próximo café, pela próxima conversa. Se não posso depositar essa bagagem nos teus lençóis e panos durante a semana, deixo-a por vezes aqui nas gotas de água ou nas palavras de uma noite imprevisível.
Acorda-me no pensamento amanhã chamando os raios de sol que fica bem. Conta-me que já há planos para o próximo amanhecer que o dia vai render.
Te amo.

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